Pesquisas revelam desgaste precoce do concreto em túneis rodoviários
- Kartrak
- há 17 minutos
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Estudos recentes indicam que o concreto utilizado na construção de túneis rodoviários está apresentando sinais de deterioração mais cedo do que o esperado, especialmente em regiões próximas ao mar.

Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Chalmers, na Suécia, identificou esse fenômeno no túnel de Oslofjord, na Noruega. Os cientistas observaram que a infiltração de água do mar traz consigo bactérias que se fixam nas superfícies de concreto, formando biofilmes – colônias microbianas que contribuem para a corrosão acelerada do material.
Concreto comprometido por atividade bacteriana
Nos túneis construídos em rochas, é comum a aplicação de uma camada de concreto nas paredes e no teto para estabilizar a estrutura e evitar deslizamentos de pedras. No entanto, em áreas costeiras, esse revestimento entra em contato com água salgada que carrega microrganismos. Essas bactérias se aderem ao concreto e se alimentam de compostos presentes em sua composição, danificando-o progressivamente.
O professor Frank Persson, um dos autores do estudo, afirmou que, em determinadas áreas, a taxa de degradação pode atingir até um centímetro por ano. O biofilme, além de comprometer a estrutura, adquire uma coloração característica devido à ferrugem proveniente da corrosão das armaduras metálicas internas.
Deterioração acelerada e generalizada
Desde 2014, análises no túnel revelaram que o processo de degradação avança mais rapidamente do que se estimava. As bactérias presentes no biofilme consomem elementos como ferro, manganês, enxofre e nitrogênio, o que intensifica a corrosão da estrutura de concreto. Em casos extremos, a perda de material pode alcançar 10 centímetros em apenas cinco anos.
Esses dados sugerem que infraestruturas semelhantes, especialmente em ambientes marinhos, podem estar mais vulneráveis do que se pensava.
Problema subestimado e pouco explorado
Apesar de o concreto projetado ser utilizado amplamente desde os anos 1990, o impacto da biocorrosão em túneis submersos ainda é pouco investigado. A professora Britt-Marie Wilén ressalta que, embora o foco tenha sido o túnel norueguês, é provável que fenômenos semelhantes estejam ocorrendo em diversas partes do mundo.
Ela destaca que, inicialmente, o pH elevado do concreto impede o crescimento bacteriano. No entanto, com o tempo, o pH da estrutura diminui, criando condições favoráveis para a proliferação de bactérias.
Influência do ambiente marinho e das mudanças climáticas
De acordo com os cientistas, o ambiente marinho proporciona condições ideais para o desenvolvimento de colônias bacterianas. A salinidade, além de favorecer o crescimento microbiano, acelera a oxidação das estruturas metálicas do concreto.
As mudanças climáticas representam outro fator de preocupação. O aumento da temperatura dos oceanos tende a reduzir o pH da água, intensificando o risco de corrosão das estruturas.
Segurança e prevenção em primeiro lugar
Os pesquisadores asseguram que os túneis permanecem seguros, graças ao monitoramento contínuo realizado pelas autoridades. No entanto, eles alertam que a negligência pode gerar custos elevados de reparo e riscos à segurança dos usuários.
Dessa forma, o estudo reforça a necessidade de políticas rigorosas de inspeção, prevenção e intervenção.
Os pesquisadores recomendam a realização de inspeções frequentes para monitorar a integridade do concreto. A medição do pH e a observação dos fluxos de água subterrânea são medidas essenciais para antecipar e controlar a formação de biofilmes.
O estudo mostra que áreas com menor fluxo de água tendem a apresentar pH mais baixo, favorecendo a corrosão. Em contrapartida, onde a água circula com mais intensidade, os ácidos produzidos pelos biofilmes são diluídos com maior facilidade.
Colaboração internacional fortalece o estudo
O artigo foi publicado na revista Scientific Reports e contou com a colaboração de especialistas como Sabina Karačić, Carolina Suarez, Per Hagelia, Frank Persson, Oskar Modin, Paula Dalcin Martins e Britt-Marie Wilén. O trabalho destaca a importância de parcerias internacionais para compreender melhor os desafios enfrentados por obras de engenharia em ambientes hostis.
Por fim, os autores ressaltam que até mesmo túneis em contato com água doce podem sofrer processos de degradação similares, embora mais lentos, o que evidencia a importância de expandir os estudos e adaptar os métodos de conservação conforme as condições locais.
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